domingo, 5 de julho de 2009

VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL POLICIAL BRASILEIRO

Introdução

O estímulo para a produção deste artigo decorre das observações pontuais absorvidas quando da participação nas reuniões para a Conferência Nacional de Segurança Pública, na Etapa Estadual, representando a Polícia Militar do Maranhão.
Naquela oportunidade convivendo com brilhantes representantes dos diversos organismos que tomam assento no colegiado estadual, pude sentir e constatar a necessidade das amplas discussões travadas, onde a participação da sociedade em assunto tão técnico, por outro lado, delicado e controverso, tem propiciado opiniões importantes em busca de soluções.
Como já me manifestei, em 28 anos e meses de serviços prestados na briosa Polícia Militar do Maranhão em benefício da sociedade maranhense, é a primeira vez que a Segurança Pública no Brasil, assume grau de importância em uma alavancada nacional, como bem aparece no intróito da página na internet: A 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública é um marco histórico na política nacional, apresentando-se como um valioso instrumento de gestão democrática para o fortalecimento do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), dentro de um novo paradigma iniciado pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
Tomando por base os seus eixos temáticos: Eixo 1 - Gestão democrática: controle social e externo, integração e federalismo, Eixo 2 - Financiamento e gestão da política pública de segurança, Eixo 3 - Valorização profissional e otimização das condições de trabalho, Eixo 4 - Repressão qualificada da criminalidade, Eixo 5 - Prevenção social do crime e das violências e construção da cultura de paz, Eixo 6 - Diretrizes para o sistema penitenciário, Eixo 7 - Diretrizes para o sistema de prevenção, atendimentos emergenciais e acidentes, nós operadores da Segurança Pública, encontramos a oportunidade de nos manifestarmos, participando de forma ativa, visando propiciar a nossa parcela de contribuição.
Em razão das mudanças políticas ocorridas no Estado do Maranhão, fui literalmente afastado do processo, como representante institucional, com uma substituição prematura, sem explicações, sem ser levada em consideração a nossa posição na escala hierárquica da corporação e sem sequer, ser respeitado pela história construída ao longo de quase três décadas devotados a instituição policial, pois embora sendo originariamente da Polícia Militar do Maranhão, já tivemos participação significativa em várias outras instituições nacionais e internacionais em conferências, seminários, congressos, simpósios, cursos, realizando palestras ou mesmo escrevendo e publicando nossas observações, a exemplo das Polícias Militares dos Estados de MG, PA, DF, Universidades Federal do RJ, MA, RS, PA, Escola Superior de Guerra (ESG), Organização das Nações Unidas (ONU) e tantas outras.
Não obstante, como um gerenciador de crises, examinei a situação e passei a vislumbrar uma outra forma de participação, afinal não poderia deixar passar em branco tão importante momento. E assim dentro do Eixo 3 - Valorização profissional e otimização das condições de trabalho da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG), resolvir concorrer no I Prêmio Nacional de Monografias em Segurança com Cidadania Professora Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza, com as perspectivas de que nossas argumentações sirvam para contribuir nas discussões que serão travadas durante a conferência.

Valorização Profissional

Com base na excelente e significativa contribuição da Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados, a valorização profissional perpassa por um contexto estrutural, a fim de que uma conjuntura funcione de forma integrada, daí para um melhor delineamento e compreensão das possibilidades elencadas que se seguirão, poderem propiciar a ampliação das discussões, pinçamos elementos fundamentais dessa importante produção.
Para que uma organização pública ou privada seja considerada eficaz em seus resultados, alguns fatores ocupam papel de singular importância, destacando-se: a qualificação, a competência e o comprometimento de seus profissionais.
É de singular importância conhecer as reais motivações pelas quais as pessoas trabalham, buscando o estimulo e satisfação, a fim de que não só a eficácia, mas a eficiência e a efetividade das ações tornem-se contínuas e naturais.
A satisfação e o prazer no trabalho estão ligados tanto a aspectos palpáveis, como a remuneração, quanto a fatores mais subjetivos, como respeito e confiança da corporação em relação a seus profissionais, o ambiente de trabalho, o orgulho de fazer algo importante para si e a sociedade, e o prazer em enfrentar e vencer desafios.
No exterior e no Brasil, instituições privadas vivendo momentos de alta competitividade, transformado pela globalização, privatizações, fusões e pela cada vez mais rápida evolução tecnológica, buscam continuamente alternativas para a melhoria da remuneração de seus integrantes com base no seu desempenho.
Por outro lado, as perspectivas de crescimento que o profissional percebe na organização são outro forte fator motivacional.
Ascensão hierárquica que resulte em um maior poder decisório e uma consequente melhoria da remuneração, traduzem-se em uma melhoria do seu status profissional.
Já é possível se vislumbrar nos Estados Unidos, organizações que criam meios que permitem ao profissional balancear sua vida pessoal e profissional. São os chamados sistemas flexíveis de trabalho, com a semana comprimida, em que o funcionário faz expedientes maiores para ficar com um ou dois dias livres na semana. Com mais tempo livre para desfrutar a vida fora do trabalho, o profissional torna-se mais motivado e melhora sua produtividade.
Desta forma, as empresas não estão sendo mais vistas apenas como um empreendimento que tem a finalidade única de gerar lucros para os seus proprietários. Na atualidade já não importa se públicas ou privadas, as organizações são vistas também como uma forma de se produzir alguma melhoria para a sociedade. Desse ponto de vista, dependendo do que produzem ou do resultado dos serviços que prestam, as organizações podem ser mais ou menos atraentes.
Trabalhar em uma fábrica, ou no Corpo de Bombeiros, ou na Polícia Militar, ou na Polícia Civil por exemplo, são coisas bastante diferentes. O orgulho de estar contribuindo com a sociedade é um sentimento altamente motivador.
No que tange a vencer desafios é plenamente observado que os profissionais competentes sentem prazer em enfrentar situações ou tarefas que coloquem à prova sua capacidade de criação e realização, vez que permite-lhes expor suas apitidões. Portanto, desafio também caminha lado a lado com a motivação.
Na Conferência Livre ocorrida no período de 19 a 21 de maio de 2009 em Bagé, Rio Grande do Sul, promovida pela Prefeitura Municipal em conjunto com as Universidade da Região da Campanha, Federal do Pampa, Estadual do Rio Grande do Sul e Mitra Diocesana de Bagé, visando propiciar posicionamentos para uma discussão ampliada na Conferência Nacional de Segurança Pública, um dos aspectos enfatizados naquele evento foi que: “ Para além da avaliação objetiva da qualidade das ações policiais, o resultado é que grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras da área de segurança pública não se sente realizada profissionalmente e compartilha a percepção de que não recebe o devido reconhecimento do seu mérito, seja da instituição de segurança pública ou da sociedade. Essa lacuna, que combina insatisfação e falta de reconhecimento, afeta a disposição, o comprometimento e a qualidade do trabalho desses profissionais”.
Destarte, baseados nesses entendimentos, elaboramos as seguintes sugestões que permitem serem criadas AS POSSIBILIDADES DE UMA VERDADEIRA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL POLICIAL NO BRASIL:

a. Vencimentos dignos

O complexo trabalho de polícia imprime aos profissionais de segurança pública requisitos essenciais para o desempenho de suas atividades aliados a uma gama de virtudes humanas como a amizade, amor, boa-fé, compreensão, compaixão, coragem, doçura, fidelidade, fortaleza, flexibilidade, gratidão, generosidade, humor, humildade, justiça, laboriosidade, lealdade, misericórdia, obediência, ordem, otimismo, paciência, patriotismo, perseverança, polidez, prudência, pudor, pureza, respeito, responsabilidade, simplicidade, sinceridade, sobriedade, sociabilidade, temperança, entre outras, bem como o conhecimento e domínio sobre uma variedade de temas, como Direito Penal, Direito Administrativo, Legislação de Trânsito, Pronto Socorrismo, Defesa Pessoal, Técnica Policial, etc.
São esses profissionais que estão nas ruas protegendo a sociedade, pondo a própria vida em risco para o cumprimento da missão, porém, não recebem hora-extra, adicional noturno, auxílio periculosidade, FGTS, seguro desemprego, e outros direitos.
Em contramão a lei maior deste país - A Constituição Federal – que define e garante ao trabalhador um piso salarial proporcional à extensão e a complexidade de seu trabalho (art. 6º, inc. V), mas não proporciona à essas classes vencimentos dígnos em conformidade com as suas atribuições.
Projeto de Emenda à Constituição ao artigo 144 (PEC 300/2008), versa sobre a equiparação dos salários das polícias militares e bombeiros militares dos Estados com a PM do Distrito Federal, é uma forma de reconhecer a importância dos serviços de segurança pública para a sociedade, além de propiciar uma mudança comportamental, em face das distorções existentes no país.

b. Qualificação permanente dos profissionais de segurança pública

1) Modernização das Academias e Centros de Formação
Com isso, torna-se possível converter essas instituições em espaços de excelência e formação de ensino superior, pós-graduação e formação continuada.
A Matriz Curricular Nacional para Formação em Segurança Pública e a Rede de Altos Estudos em Segurança Pública, foram instrumentos colocados em práticas que vem contribuindo significativamente para a formação, qualificação e treinamentos dos profissionais da área de segurança pública, entretanto, ainda se faz necessário um fortalecimento contínuo, privilegiando temas específicos que se destacam pela íntima relação com a atividade policial:

2) Programa de reciclagem sobre Direitos Humanos
Desenvolvimento constante de cursos, seminários, fóruns, painéis e palestras, para os integrantes dos órgãos de segurança pública, levadas a efeito por equipes de reconhecido conhecimento técnico-jurídico nas diversas especializações (Anistia Internacional, Ordem dos Advogados do Brasil, Ministério Público, Juizados, Secretarias de Estado da Justiça e da Segurança Pública, Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Organizações Não Governamentais e outros) baseado nas seguintes linhas mestras:

a) Conscientização da origem dos profissionais de segurança pública e da sociedade
Esses profissionais devem ser conscientizados que como seres humanos, são oriundos da mesma sociedade para a qual presta seus serviços e através da qual recebem seus proventos para sustento seus e de suas famílias. A formação profissional os prepara para manter as regras de controle social; portanto, diferem dos seus semelhantes apenas pelo fato de serem investidos pelo Estado de autoridade, atuando através de um conjunto de ações específicas (polícia ostensiva e/ou judiciária), buscando manter o ordenamento jurídico vigente (preservação da ordem pública).

b) Respeito e obediência às leis
A convivência harmoniosa e pacífica entre os cidadãos, necessariamente passa pela compreensão dos limites do direito de cada um, ou seja, o direito de um termina, quando inicia o direito do seu semelhante e vice-versa, talvez seja até utópico pensar que esse juízo de valor jamais será entendido genericamente por todos os cidadãos, mas o policial tem que compreender, internalizar e praticar tal situação.

c) Atividade policial - princípios básicos: legalidade/moralidade
O policial ao ingressar na corporação deve ter a consciência ou guindado a tê-la, de que é preciso ter fé na grandeza e nobreza da missão, pois como profissional de segurança pública, para exercer a sua profissão poderá enfrentar todos os tipos de problemas sociais, muitas vezes passando pela incompreensão, falta de reconhecimento e até ser injustiçado; situações estas, que não podem desvirtuá-lo do caminho correto, pois todas as suas atitudes devem estar calcadas nos princípios da legalidade e da moralidade.

d) Igualdade dos seres humanos perante a lei
A profissão de representante da lei – profissional de segurança pública não é superiores às demais profissões, pois, a Constituição Federal traz em seu bojo um princípio presente em todos os tratados e convenções internacionais – igualdade perante a lei – independentemente de raça, nacionalidade, religião, cor, condição social, sexo, idioma, opinião pública, idade ou qualquer outra condição.

e) Polícia Comunitária: maior integração com a comunidade
A polícia tem procurado aumentar sua capacidade operacional, buscando parcerias com a sociedade, lançando e colocando em prática com exclusividade, atividades policiais comunitárias específicas.
Entretanto, as corporações não conseguem o mesmo desempenho em todos os lugares, pois ainda existe um significativo distanciamento entre o policiamento desenvolvido (por alguns setores) e a comunidade.
A Polícia Comunitária como uma forma de fazer polícia, através da parceria solidária com a comunidade, onde os problemas relacionados com a criminalidade são discutidos buscando soluções, bem como as formas de obter os recursos indispensáveis à corporação para que esta possa atuar modernamente, prestativamente e atuantemente deve ocupar espaços mais significativos, passando de um modelo para uma conjuntura eficaz, eficiente e efetiva.

3) Uniformização curricular
A divergência nas grades curriculares dos cursos de formação, aperfeiçoamento e especialização nas corporações, criam linguagem e posturas diferenciadas.

4) Seleção
Compreendendo as fases de testes intelectuais, psicotécnicos, médicos e físicos já exigidos pelas corporações de forma eliminatória, no processo seletivo, a avaliação dos dados comprovados da vida pregressa do candidato deve caminhar no mesmo compasso, permitindo afastar indivíduos com tendência mórbida ou de comportamentos inadequados, evitando conseqüentemente prejuízos, desgastes e embaraços para a corporação.

5) Formação
Criteriosa e completa em todos os níveis, pois não se pode entender a formação policial de forma incompleta, sendo às vezes lançado no policiamento tão somente para atender a carência de pessoal existente ou condicionada a interesses políticos (práticas inadmissíveis), vez que a colocação nas ruas de policiais despreparados para as diversas atividades da corporação e/ou que não tenham condições completas formativas para uma convivência salutar com a sociedade, pautada nos princípios legais, morais, educacionais e profissionais, podem torná-los algozes da própria sociedade.

c. Saúde física e mental

1) Acompanhamento
Os profissionais de segurança pública estão expostos a constantes riscos e tensões, os quais afetam sobremaneira a sua qualidade de vida, portanto, torna-se necessário dispor de mecanismos que lhes propicie as possibilidades de atendimento à saúde física e mental.
Assim como foi vislumbrado na Conferência Livre realizada pela Prefeitura Municipal de Bagé, Universidade da Região da Campanha, Universidade Federal do Pampa, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e Mitra Diocesana de Bagé devem ser criadas e propiciadas a continuidade de programas de promoção da saúde integral dos policiais (estabelecidos a partir de padrões unificados nacionais de atendimento biopsicossocial mínimo) como uma forma de garantir atenção permanente aos profissionais e impedir que a qualidade do trabalho seja afetada.
Por outro lado, o acompanhamento e a orientação psicológica adequada, reverterão situações de tensão, embrutecimento, síndrome de justiceiro e stress, pois o acompanhamento ininterrupto desde o recrutamento propicia evitar desvios de conduta além de pautar o homem dentro de parâmetros normais de convivência, ocupando essa assistência papel preponderante dentro das corporações.

2) Assistência social
Gestores e policiais que desempenham funções de comando e chefia, devem redobrar o cuidado na percepção de policiais com problemas, procurando solucioná-los ou encaminhá-los para os setores competentes, pois os subordinados vêem nestes as figuras de líder e condutor de destinos.

d. Gestão de pessoal e a otimização das condições de trabalho

1) Dosagem de serviço e folga
Jornadas racionais, intercaladas de descansos razoáveis, impedem o desequilíbrio do homem, provocados pela fadiga e evita possíveis atos de violência, além de permitir que o mesmo assista sua família.
A falta de policiais em números suficientes e previstos nas corporações, são compensadas estrategicamente com a diminuição da folga, visto que as corporações hoje operam com pouco mais de 50% do seus efetivos e em razão da demanda dos serviços, exige um esforço dobrado do homem desrespeitando os limites físicos e mentais desses profissionais, comprometendo ainda a qualidade e os resultados do trabalho, além de potencializar os riscos aos quais estão submetidos, principalmente durante os grandes eventos, indo de encontro constante as necessárias folgas das escalas, o que se traduzem em descompassos com a realidade da profissão.
A correção das distorções e a proposição de novos modelos, devem atender aos princípios estabelecidos na carta maior deste país.

2) Incentivo ao lazer
O lazer alivia tensões e aprimora relações de convivência social, proporcionando uma interação maior entre companheiros de profissão: superiores, pares, subordinados e sociedade, criando laços de amizade.

e. Dinamização de procedimentos administrativos

1) Apurações Criteriosas e Honestas
Desenvolvido há algum tempo nas corporações, os procedimentos disciplinares passaram por um processo de modernização, entretanto não há diretrizes nacionais, cada corporação procede conforme suas legislações. Os desvios de conduta devem ser apurados com maior isenção, dentro dos princípios legais. Quando necessário, conforme a gravidade, principalmente quando ficar evidenciada a dolosidade, deve ser aplicado às punições compatíveis, uma vez que estes procedimentos desestimulam a prática e refreiam ímpetos violentos, como também evidenciou a Conferência Livre realizada pela Prefeitura Municipal de Bagé, Universidade da Região da Campanha, Universidade Federal do Pampa, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e Mitra Diocesana de Bagé “a atualização evita a manutenção de uma cultura de punição extrema e sem sentido no interior da corporação”.

2) Sistema de reconhecimento e prêmios
As corporações visando estimular o profissional de segurança pública a trilhar sempre no caminho do bem, já proporciona o reconhecimento daqueles que se destacam operacionalmente e administrativamente, entretanto, poderia haver uma ampliação, com a oferta de cursos, folgas extras, aumento de pontos para promoção, o que incentivará o sentimento de orgulho em pertencer à corporação, perante seus familiares, amigos e toda a sociedade.
Também se faz necessário à criação de mecanismos que evitem o usufruto a tais reconhecimentos, por profissionais que em razão de estarem desempenhando atividades com peso político, tanto internamente como externamente, possam ser beneficiados, em detrimentos dos verdadeiramente merecedores.

3) Incentivo à pesquisa, produção de conhecimentos e formação de doutrinas.
Uma corporação que não pesquisa e não produz conhecimentos, tende a incorporar doutrinas alheias. O estímulo à produção de obras, principalmente profissionais, favorece uma busca constante pelo aperfeiçoamento, desenvolvido através da pesquisa, visando à formação de doutrinas próprias, além de oportunizar àqueles que detêm o conhecimento no sentido de estender a todos os integrantes da corporação. Estes, detentores, ao terem suas obras reconhecidas como de importância para a corporação também deverão ser estimulados através do Sistema de Reconhecimento e Prêmios.

Conclusão

Assim os posicionamentos sobre as questões relacionadas, envolvendo representantes dos trabalhadores da área (operadores da segurança pública), sociedade civil e poder público vão definir, juntos, os princípios para a política nacional de segurança pública, bem como as diretrizes para cada um dos eixos temáticos da Conferência já referenciados.
Recebendo a participação através de comentário sobre o nosso artigo - Os Direitos Humanos no Brasil e as Polícias, abrigado no Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e postado pelo amigo Herbert Gonçalves Espuny de São Paulo (SP), acrescentou o seguinte: Não seria pertinente, também, uma assistência jurídica para o policial que, muitas vezes, caluniado e injustiçado precisa gastar recursos que não dispõe com advogados? Além disso, um plano adequado de carreira e outros benefícios que a maioria das empresas de nível médio possui, poderiam complementar o patamar de segurança necessário para que um agente policial possa enfrentar seus desafios cotidianos.
Esse é o entendimento, este é o processo de participação comum em regimes democráticos.
Agradeço essa participação especial que sem dúvidas, propiciou uma cristalina demonstração de que é a junção de várias opiniões que resultará em excelentes contribuições para a ampliação do assunto. Repito, técnico, entretanto, delicado e controverso.

Bibliografia

http://www.araucaria.pr.gov.br/04_arquivos/01_geral/smma/Eixo_3.pdf.1ª. Conferência Nacional de Segurança Pública – Etapa Municipal – Auracária/PR. Acessado em 01/06/09 às 20h35m.
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http://www.abep.sp.gov.br/fatosabep/fatos/fatosfev01.pdf. É o momento de valorização do profissional. Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados. Acessado em 03/06/09 às 00h55m.
http://www.universopolicial.com/2009/01/valorizao-profissional-e-pec-3002008.html. Valorização profissional e PEC 300 / 2008. Acessado em 05/06/09 às 23h40m.
http://www.forumseguranca.org.br/artigos/os-direitos-humanos-no-brasil-e-as-policias#c2227. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Acessado em 03/07/09 às 14h30m.
http://www.conseg.gov.br/index.php?option=com_content&view=category&id=209&Itemid=154. CONSEG. Acessado em 05/07/09 às 11h43m.
POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO. Programa de Polícia Comunitária, São Luís,1996.
________. Polícia Comunitária: Conceitos e Doutrinas, São Luís, 2005.
SILVA, Francisco Melo da. Projeto Polícia Comunitária, São Luís: PMMA, 2003.

São Luís-MA, 05 de julho de 2009.

Ten Cel QOPM Carlos Augusto Furtado Moreira
Chefe do Estado Maior do Cmdo do Policiamento Regional 1
celqopmmafurtado@hotmail.com - (98) 8826 4528

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ALGUNS PROBLEMAS DA POLÍCIA


Introdução

Rara não são as vezes que diários de notícias escrito e televisado estampam problemas envolvendo policiais e as corporações.
Rememorando o período entre 13 e 18 de agosto do ano de 1990, quando esteve em visita ao Brasil, Sr. John Alderson, ex-Diretor da Scotland Yard (Polícia Inglesa) que naquela oportunidade manifestou sua visão afirmando que um dos males do Brasil é a violência policial, sendo difícil resolver o problema brasileiro com a Polícia dividida em dois blocos distintos, a Polícia Civil e a Polícia Militar, cada uma trabalhando em caminhos próprios e até rivalizando entre si.
Desta sorte analisando algumas considerações feitas por aquele especialista abordarei alguns problemas relacionados à polícia (compreendendo aqui todas as instituições previstas no texto constitucional) que tem se tornado constante na sociedade hodierna.
Os fatos que evidenciam violência policial, corrupção policial, desvio de finalidade e um divórcio entre a polícia e a sociedade, se sucedem interativa e sucessivamente por todo o Brasil, abrangendo todas as corporações.
Lembro-me que o Cel QOPM RR Willian Romão, ex-comandante geral da PMMA se referia aos dois primeiros problemas como os cânceres que corroem a instituição policial militar.
As polícias convivem com problemas semelhantes, apesar de terem origens, experiências e atribuições diversas, sinalizando que a matriz dos problemas é comum.
Estudos diversificados dão ênfase e relacionam os problemas abaixo como os maiores entraves vivenciados pelas instituições.

a. Violência Policial

O efeito da globalização analisados em nosso artigo A VIOLÊNCIA E A CRIMINALIDADE DESAFIANDO O PODER PÚBLICO, escrito em 13/04/2008, aliados aos problemas sociais também referenciados no pré-falado artigo, tem sido acompanhado por crescentes índices de violência e criminalidade e, paralelamente, pela insatisfação da população com a ineficiência da justiça criminal.
Em várias unidades federativa, autoridades têm respondido à população, preocupada com a criminalidade, com algumas políticas que toleram ou promovem graves violações dos direitos de suspeitos de prática criminosa.
Organizações Não Governamentais acusam que nos maiores centros urbanos, policiais simulando defesa própria ou de terceiros, matam muitas vezes sem justificativas, preenchendo freqüentemente falsos relatórios, descrevendo execuções extrajudiciais como tiroteios envolvendo perigosos criminosos e depois levando os corpos de suas vítimas para setores de emergência dos hospitais para que recebam os “primeiros socorros”.
Ao remover os corpos das vítimas do local do crime, violando a legislação brasileira, estes policiais efetivamente eliminam a possibilidade de uma investigação adequada dos casos por parte dos peritos.
Relatórios da Human Rigths Watch, ONG americana, sentencia que em alguns Estados, policiais dão continuidade à abominável prática de desaparecimento forçado utilizada no Brasil durante o regime militar.
Acusam ainda que quando os precários inquéritos sobre incidentes de violência policial, apurados pela própria polícia, chegam ao Ministério Público quase nunca recebem prioridade. Uma vez apresentada a denúncia, as instâncias jurídicas brasileiras, particularmente as da Justiça Militar, não cumprem com a obrigação legal de julgar, condenar e punir policiais violentos. O preconceito contra suspeitos é quase tão difundido na justiça quanto entre as forças policiais e a sociedade em geral.
No caso específico das Polícias Militares, a violência é mais fácil de ser contida, pois ocorre nas ruas, em público, sendo invariavelmente percebida, em contrapartida com as outras instituições, a violência ocorre em suas dependências.
No relatório anual da Human Rights Watch relativo ao ano de 2008 publicado em 14 de janeiro de 2009, no que tange a Violência Policial, dá conta que as áreas metropolitanas brasileiras são assoladas pela violência cometida por gangues criminosas e policiais abusivos. Nessa conjuntura a violência afeta principalmente comunidades de baixa renda e quase 50.000 homicídios ocorrem anualmente no Brasil.
Destaca ainda que a violência policial, incluindo execuções extrajudiciais, é um problema crônico. Assim como abusos também são cometidos por policiais fora do horário de serviço.
Rotineiramente tem se observado nas divulgações levadas a efeito pela mídia que as milícias que controlam várias dezenas de comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro também têm policiais fora de serviço entre seus membros.
Assunto trabalhado pela Organização das Nações Unidas, Anistia Internacional, Organizações Não Governamentais, amplamente divulgados na internet, conclui que o problema da violência policial no Brasil encontra sua matriz como parte integrante das ações corriqueiras de combate ao crime e à criminalidade urbana no Brasil.
Assim as políticas públicas implementadas no decorrer da redemocratização do país ainda não alteraram o quadro dessas violações e, pior que isso, nas principais capitais do país, a violência é utilizada como instrumento de combate aos criminosos, o que estimula as torturas e as mortes extrajudiciais.
Não há dúvidas de que o problema é grave, é intolerável a violência desnecessária, até porque a lei admite o uso e a adoção da força necessária por policiais para impelir defesa sua e de terceiro, entretanto condena totalmente a violência policial.
Cabem a todos nós gestores, comandantes em todos os escalões, a fiel observância da lei em nossas ações, coibindo essa mazela que macula procedimentos policiais e coloca em xeque a instituição como um todo.

b. Corrupção Policial

A fragilidade dos instrumentos hierárquicos e disciplinares das corporações policiais, a seqüência de escândalos no dia-a-dia da polícia não pode ser atribuída exclusivamente à fraqueza do ser humano. Sem dúvida a questão é estrutural.
Existe a corrupção instituída e generalizada de que participa instituições policiais, como aquela que é patrocinada pelos banqueiros do jogo do bicho; há a corrupção localizada em unidades policiais, patrocinada por modalidades do crime organizado (como o tráfico de entorpecentes, o furto e roubo de veículos); há a corrupção como prática enraizada de funcionários da polícia, independente da unidade policial em que sirvam.
Existe ainda a corrupção clássica que caracterizam dirigentes e funcionários no manuseio de recursos do Estado em qualquer modalidade de serviço público e em qualquer nível de governo.
Os baixos salários que desmotivam a atividade policial, e que resultam na procura pelos agentes policiais de outras fontes alternativas de remuneração, em prejuízo da produtividade de seu serviço é uma decorrência direta desse problema.
O assunto tem que ser estudado com seriedade para que se encontrem soluções viáveis.

c. Desvio de Finalidades

O problema quase não é percebido pela opinião pública, mas existe e é grave.
Vai desde o uso indevido dos meios materiais, efetivos retirados da atividade policial para atender a interesses menores até ao exercício deliberado de funções policiais que não são exatamente aquelas competentes à Instituição.
O Professor Hely Lopes Meirelles ensina que: “O desvio de finalidade ou de poder se verifica quando a autoridade, embora atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. O desvio de finalidade ou de poder é, assim a violação ideológica da lei, ou, por outras palavras, a violação moral da lei, colimando o administrador público fins não queridos pelo legislador.”
O desvio de pessoal policial para atividades não policiais agrava a carência numérica, sobrecarrega as direções, interrompe a formação policial que advém em grande parte do exercício de sua função típica.
Destacam-se as assessorias aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que absorve significativa quantidade de policiais para atividades das mais diversificadas possíveis, totalmente diferente da formação recebida e que vai sobrecarregar os companheiros que continuam em seus misteres.

d. Divórcio entre a Sociedade e a Polícia

Há um divórcio entre a sociedade e a Polícia, ora pela incompreensão coletiva do papel da Polícia, ora pela reação às violações policiais dos Direitos Humanos, ora pela falta da ocupação de suas atividades no seio das comunidades onde estão inseridas.
A sociedade elabora concepções sobre o crime, o criminoso e terapias de controle social.
Práticas policiais condenadas pelos defensores dos Direitos Humanos podem corresponder a expectativas populares de combate adequado ao crime.
Nessa ótica é evidente que a popularidade de uma prática não a torna moralmente justificável - mas interpretações ambientais de objetivos e meios eficientes de políticas de controle social afetam em alguma medida a realidade organizacional da polícia.
Os Direitos Humanos são ameaçados por concepções populares de ordem que identificam em estranhos, drogados, jovens e outros tipos, os objetos de controle policial: o absolutismo moral conspira contra os Direitos Humanos de membros individuais de grupos minoritários de excêntricos, adolescentes, prostitutas e que devem ser, entretanto protegidos da tirania das maiorias, inclusive pela polícia.
A garantia institucional dos Direitos Humanos é precária quando - ao contrário da sabedoria convencional que assume como fato a crença de que a polícia se situa ideologicamente à direita da sociedade e esta, apóia fortemente práticas policiais desviantes das regras de controle social-democráticos.
A sociedade pode deseducar a polícia através de pedagogias diversas - exigindo dos policiais a suspensão dos Direitos Humanos na restauração da ordem pública; privando a polícia dos recursos adequados e desempenho eficiente na redução das taxas criminais (incluindo salários simétricos às responsabilidades e riscos próprios do trabalho policial); condicionando esse trabalho aos interesses particularistas dos donos de poder social e político. Mas a garantia dos Direitos Humanos entre nós depende, também, de alterações nesses processos.
Nessa esteira de entendimento, vários são os estudiosos que afirma que as instituições só se dispõem a adotar processos de mudança quando: A legitimidade da sua missão é questionada; seus valores são abertamente desafiados; sua posição perante a sociedade é abalada por revelações de corrupção, escândalo ou abuso de poder; seu monopólio é ameaçado ou invadido por competidores; a sobrevivência institucional é ameaçada; o desempenho funcional estiver muito baixo; em caso de ampliação, fusão ou diversificação; após período de crescimento acelerado, para fazer adaptações corretivas.
Assim para garantir o sucesso das mudanças organizacionais, os modelos precisam ser concebidos: De maneira adequada; corretamente dimensionados e prescrevendo a dosagem de mudança que o sistema é capaz de suportar.
Só assim então teríamos uma mudança de paradigmas capaz de iniciar uma nova relação.
A interação entre a polícia e a sociedade é fundamental pela inter-relação existente.
A doutrina universal, presente com uma ou outra modificação, não essencial, em todas as obras de Direito Administrativo, conceitua polícia como atividade administrativa que, valendo-se da coerção, ora tem por finalidade prevenir a manutenção da ordem pública, através da limitação da liberdade individual e coletiva, ora se destina a promover a paz, a tranqüilidade pública, através da proteção e socorro comunitários.
A polícia tem um papel social muito importante na sociedade e existe não só para servir como termômetro da sociedade, mas também para promover o bem comum, criar as condições necessárias para que a vida, e particularmente a vida humana, se manifeste em todo o seu esplendor e riqueza.
Destarte, a polícia é uma instituição de natureza comunitária, caracterizada como força-dinâmica do Estado-Sociedade, para desenvolver ações preventivas e repressivas, com a finalidade de proteger as pessoas e seus bens, assegurando-lhes a tranqüilidade necessária para viver em paz.

Conclusão

Os problemas são polêmicos e alguns policiais o encaram como falta de espírito de corpo, desnudar “situações consideradas interna-corporis”.
Diferentemente do entendimento desta postura, acredito que a polícia como instituição social e que existe para intermediar conflitos, necessita cada vez mais aproximar-se das mesmas comunidades integrantes da sociedade onde desenvolvem seus serviços, pois é esta interação e inter-relação que vai ajudar a encontrar soluções para os graves problemas apontados.

Bibliografia

http://www.hrw.org/en/world-report/2009/brasil. Violência Policial. Acessado em 16/06/09 às 23h30m.
http://www.observatoriodeseguranca.org/relatorios/policial. Violência Policial. Acessado em 16/06/09 às 23h45m.
POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO. Programa de Polícia Comunitária, São Luís,1996.
________. Polícia Comunitária: Conceitos e Doutrinas, São Luís, 2005.

São Luís-MA, 02 de julho de 2009.

Ten Cel QOPM Carlos Augusto Furtado Moreira
Chefe do Estado Maior do Cmdo do Policiamento Regional 1

CONSELHO PARA UM AMIGO EM CONFLITO CONJUGAL

Se você se permitiu iniciar a um novo relacionamento conjugal, após um outro desfeito, unindo-se em matrimônio e algum tempo depois, inicia ...